Sábado, 2 de Julho, nove e trinta da manhã, Vale do Silêncio. No meio do arvoredo, incógnita, uma ave desfaz-se em cantoria. Canta sem descanso e encanta quem a ouve. Termina uma começa outra melodia. Quem a conhece diz: lá está um rouxinol! Quem não conhece a voz de tão ilustre cantor, pergunta: Que pássaro será aquele que canta tão bem?
Não muito longe dali, um melro, de bico amarelo, imita o vizinho. A cantilena é parecida, mas inconfundível. O pássaro preto de bico amarelo canta sempre a mesma ária, o seu vizinho rouxinol tem um vasto repertório.
Enquanto a bicharada e a passarada e os frequentadores habituais do parque cumprem os rituais próprios de cada um, no meio da relva, num campo de futebol improvisado, duas equipas de futebol estão prestes a entrar em acção. Dum lado está a equipa dos «descamisados», do outro, está a equipa dos «camisas vestidas». É um autêntico encontro de titãs.
Antes do jogo toda a gente seguiu o guia, primeiro, pelo trilho interior do parque em jeito de aquecimento e de apresentação aos Amigos que ainda não o conheciam, depois pela relva fofinha.
O jogo decorreu normalmente, sem consequências de maior. Entorses ligeiras, dores musculares, e por aí se ficou o pior que poderia ter acontecido. Ao fim de trinta minutos o apito final soou e o jogo terminou. O resultado final foi de três golos favoráveis à equipa dos «descamisados», e zero para a equipa dos «camisas vestidas».
Alguns atletas menos bons na corrida mostraram boas qualidades para o futebol; outros, que na corrida são verdadeiros ases, não se revelaram tão bons atrás da bola.
Quem não teve descanso foi a fotógrafa de serviço sempre atenta a tudo que mexia e pronta a disparar o flash para os alvos. Os mais vaidosos colocavam-se propositadamente à frente dos outros para ficarem na foto, os mais tímidos escondiam-se para não ficarem. Talvez com medo de partir a máquina.
Estava cumprida a primeira parte do programa das comemorações do almoço/convívio de final de época desportiva dos Amigos Vale Silêncio.
Dali seguiram todos para o Parque Urbano onde tomaram banho, mas não posaram para a foto de família, conforme previa o programa inicial. Até aqui foi a única falha da organização. Mas como houve direito a uma foto de grupo no Vale do Silêncio, que não constava do programa, compreende-se perfeitamente e serve de atenuante.
O almoço estava previsto para o meio-dia. Do menu constava sardinha assada e entrecosto na brasa. Cardápio apetecível para a maioria dos convivas. Quem, por ventura, não gostasse das sardinhas ou do entrecosto, podia deliciar-se com rim de porco assado que por acaso estava divinal.
Ao meio-dia e meia estava toda a minha gente a matar a fominha. As barrigas eram pequenas para tanta sardinha, tanto entrecosto, tanta salada, tanto vinho, tanto bolo, tanto de tudo, onde não faltou a boa disposição, as conversas sérias e da treta, e até se cantou o fado.
Não sei como é que alguns, que até nem têm grande barriga, conseguiram acomodar tanta sardinha e entrecosto no interior dos seus estômagos vazios à partida. Tenho uma teoria que carece de confirmação, evidentemente: Trata-se de simples desforra, ou vingança, como queiram, por este ou aquele ficar sempre à frente nas provas. Claro que me incluo nesses bonzinhos vingativos.
Bem comidos e bem bebidos os presentes davam sinais de inquietação. Mexiam-se nos bancos, viravam-se para um lado e para o lado oposto. Apetecia-lhes circular, espairecer, esticar as pernas, bocejar, espreguiçar-se, dar uma bufa, fumar um cigarro, tomar um café.
Um Amigo levantou-se, bateu com a faca na garrafa para chamar atenção, pediu uns segundos de silêncio. Começou por dizer: - Caras amigas e caros amigos… Demorou a fazer-se silêncio no recinto. O orador estava descontraído, talvez um tudo-nada nervoso, como é normal acontecer nestas alturas. O ser humano é complexo. Eu, por exemplo, preferia mil vezes fazer uma maratona do que levantar-me ali perante os presentes e dizer duas palavras de circunstância. Os convivas não deixavam o orador dizer o que queria. E o que queria era tão-somente agradecer à Organização do evento o excelente repasto e entregar-lhe uma lembrança como prova de gratidão do Grupo.
Seguiu-se um segundo tribuno, que ilustrou o espírito dos Amigos Vale Silêncio com uma estória verídica, digna de um romance, a qual não reproduzimos aqui porque todos a ouviram. Realçou a incondicional disponibilidade do Mister Fernando para com os Amigos Vale Silêncio. Estou certo que muito mais teria a dizer sobre este assunto e tudo quanto dissesse era pouco para lhe agradecer tudo o que tem feito em prol do Grupo. Solicitou ao pai do Mister, o fundador dos AVS, que lhe fizesse entrega de uma pequena lembrança, em nome de todos, a saber, o «Livro» do escritor José Luís Peixoto, assinado por todos os amigos e amigas presentes.
Comovido, o Mister Fernando Silva, agradeceu a lembrança.
O convívio prolongou-se pela tarde fora. O verde e o tinto competiam entre si para ver quem era capaz de tombar primeiro a primeira carroça. Mas as carroças tinham lastro bastante e não se deixaram ir na conversa. Permaneceram de pé, alegres, é certo.
E assim se cumpriu mais um evento muito importante para os AMIGOS VALE SILÊNCIO.
3 comentários:
Grande convívio de grandes atletas e grandes amigos!
Parabéns e continuem sempre!
Continuem no bom caminho porque o grupo merece. Tudo de bom para todos.
Há na vida momentos que só por si se tornam únicos e a vida sem eles é um vazio difícil de explicar, sem amigos a vida não faz qualquer sentido.
Há alturas que servimos o melhor que sabemos esses amigos e outras que somos servidos, e no final é como um jogo de futebol que acaba 0-0.
Este convívio só foi possível devido ao trabalho do Avelino,P.Pires, Filipe, Rui e dos senhores da quinta e no final já se falava do próximo.
A todos um simples obrigado porque a vida é simples de viver.
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