terça-feira, 7 de agosto de 2012

Crónica do Ultra Trail Noturno Lagoa de Óbidos


O Ultra Trail Noturno da Lagoa de Óbidos era de há muito um objectivo traçado por 2 atletas do nosso Clube mas que na última semana viu reforçado para 4 a nossa representação nesta magnífica prova, Joaquim Adelino e Daniel Pinto e posteriormente a Susana Adelino e o Rui Pacheco (estes 2 últimos estreantes na prova).
Uma prova muito dura com a agravante de se ter realizado à noite a partir das 21h. Os objectivos estavam bem programados por todos nós, a Susana por estar a iniciar os seus treinos e o regresso à competição fez a prova mais "pequena" de 26 kms tendo para o efeito contado com a ajuda de uma amiga do CLAC do Entroncamento, Otília Leal, que desde o início a acompanhou sempre. Cedo começaram a surgir os primeiros sintomas de cansaço e dores nos membros inferiores em resultado de uma preparação insuficiente para esta prova, mas ao mesmo tempo de valorizar já que demonstra vontade, a partir dos 15 kms e até final foi um misto de Correr/andar com o único objectivo de chegar, apesar das fortes dores de pernas conseguiu concluir com o tempo de 3,20h. Agora recupera com muitas limitações de movimentos mas que o tempo tratará de sarar a tempo de nova experiência que é estar presente na Meia Maratona em S.João das Lampas em 8 de Setembro.
O Daniel tinha como objectivo concluir a prova dentro de um tempo inferior a 7h. para isso contou com a colaboração do Rui Pacheco que aproveitou esta prova de 50kms para treinar e iniciar o ataque ao Ultra Trail da Serra D,Arga em Outubro na bonita Cidade de Caminha. Aqui também vieram ao de cima fragilidades que só podem ser detectadas se lá estivermos, até lá alimentamos a esperança que aquilo que fizemos (preparação) foi suficiente para levar aquilo de vencida e dentro dos planos que traçamos, só que a realidade no terreno é bem diferente e nisso o Daniel aprendeu bastante. o Rui ficou com ele conforme planeara e sentiu-se sempre confortável, sempre a incentivar e a colaborar para que aquilo fosse feito no menor tempo possível já que era esse o objectivo do Daniel. Só que a partir dos 25kms começaram a aparecer os problemas, as dores nas pernas começaram a surgir, as dificuldades maiores da prova começaram a partir daí com o aparecimento da areia da praia (muito solta e remexida) e das dunas onde para além da existência de muita areia havia também muito mato rasteiro e a dificuldade acrescida para encontar os pontos luminosos que indicavam o caminho. Dali até final foi sofrer bastante, qualquer subida e mesmo algumas descidas eram um tormento para ultrapassar, até que se chega à conclusão que o prazer da prova se transforma mais em chegar do que obter uma boa marca e humildemente reconhecer o que parecia impossível à partida, concluir que afinal ainda não estava preparado para enfrentar aquilo dentro dos objectivos a que se propôs. O Rui teve uma atitude de louvar, para além de fazer um treino essencial à sua preparação tendo-o feito com bastante à vontade ajudou a que não fosse tão penoso para o Daniel, o corpo reagiu bem ao esforço e mostrou que continuando o treino com o objectivo de enfrentar os trails com outra dimensão superior poderá livrar-se de problemas musculares que o têm atormentado em alturas cruciais nas provas em que já participou. Apesar de dorido o Daniel tem agora alguns dias até se livrar do incómodo das dores musculares e o treino é o melhor remédio para tratar disso já que o Rui pelo que vi não ficou com qualquer mazela, revelando estar no bom caminho para voltar a fazer uma excelente época.
A minha prova foi a esperada, mas não se pense que foi fácil, nunca é, porque fazer 50kms é sempre difícil seja para quem for. Contei desde o início com a companhia do Luís Miguel (um amigo das Lebres do Sado) e logo que partimos impuz um ritmo tendo em conta o objectivo final que era chegar, nada de atingir limites e correr sempre confortável, não conhecia parte do percurso as alterações feitas teve em conta o aumento da distância para os 50kms por isso era uma novidade e quando assim é sentimo-nos mais motivados exactamente porque o desconhecemos. De tudo fomos encontrando, na chegada à Lagoa de Óbidos fizemos logo uma incursão à parte norte da Lagoa passando por trilhos feitos especificamente para esta prova, uma passagem muito bonita com canaviais a ladear e até a cobrir-nos onde não faltava alguma humidade que nos refrescava o corpo, atravessámos uma vala bem larga onde tivemos todos de ir a banhos de água e lama, ninguém escapou, os pés ficaram a pesar mais mas pouco depois já esquecíamos o desconforto já que as dificuldades não se ficavam por ali. Retomámos à margem esquerda da Lagoa para pouco depois encontrar nova dificuldade intruduzida na prova, atravessar um pântano com cerca de 300 metros cheio de buracos e com o terreno num lamaçal autêntico onde os pés enterravam quase até cobrir os ténis, aí tive oportunidade de cair num buraco que estava tapado com ervas mas não cheguei a tombar e saí de lá com facilidade. Nesta altura os pés já chocalhavam dentro dos ténis, era lama, água e areia mas não quis parar e segui até encontrar o abastecimento dos 25kms. Era aqui que começavam as dificuldades maiores, estava a meio da prova e tinha gasto já 3,45h. Sem grandes novidades no percurso seguinte mantiveram as dificuldades na areia e nas dunas ao longo de 5kms até saímos para encontar o abastecimento principal dos 32kms. Aqui devia ter tirado os ténis e fazer uma 1ª limpeza mas nem sequer me lembrei disso, comi e bebi e pouco depois abalei na companhia do meu inseparável amigo e companheiro desta odisseia Luís Miguel, pouco depois tivemos mesmo de parar para retirar o lixo que estava nos ténis, foram cerca de 10 minutos pois não é fácil tirar as meias técnicas naquelas condições e voltar a calçalas com cerca de 35kms nas pernas. Seguimos e pouco depois nova paragem, desta vez faltou a luz ao frontal ao Miguel e tivemos de trocar de pilhas, o meu frontal de há muito que deixara de dar a luz suficiente para que visse como deve ser onde punha os pés (tinha deixado as pilhas suplentes no carro), era por isso que nesta altura as dores eram muitas nos 2 pés, o terreno era muito duro e irregular devido a buracos e muito mato, as pernas já sentiam algum cansaço mas ainda assim ainda conseguia correr, devagar mas corria. Foi assim até cortarmos a meta em Óbidos numa chegada muito bonita apesar de ali já estar muito pouca gente à nossa espera, para além da organização e alguns resistentes lá estava também o Rui, a Susana e o Daniel, eram 05,11h e ao longe já se avistava os primeiros raios solares do novo dia. Este testemunho que faço da minha prova é um retrato daquilo que se passou com todos os outros atletas e em particular com os nossos, quedas, enganos no percurso e dificuldades em encontrar o melhor rumo foram uma constante, daí esta narração que não visa particularmente a minha prova mas a de todos nós. Voltaremos para o ano, se possível com uma delegação maior já que se trata de uma prova espectacular.
Tempos dos atletas dos Amigos do Vale do Silêncio: 
Texto: Joaquim Adelino




Ultra Trail, 50kms
112º-Rui Pacheco: 6,30,50h.
113º-Daniel Pinto: 6,30,50h.
206º-Joaquim Adelino: 8,11,25h.

Trail, 26kms
186º-Susana Adelino: 3,21,12h.