domingo, 30 de maio de 2010

2ª Corrida Novas Oportunidades

Com partida e chegada no jardim de Belém, em Lisboa, realizou-se, em 30 de Maio, a corrida em epígrafe.
Sem os ases, as manilhas e os reis, o nosso clube, fez-se representar pelos atletas infracitados.
Foi mais um momento importante de confraternização entre os amigos presentes e outros amigos e conhecidos.
Durante a prova, a caminho do Zénite, sem contemplações, o Sol, cuspiu golfadas de calor abafadiço sobre os corredores.
Entre os mil quinhentos e cinquenta e um atletas que concluíram a prova, os Amigos Vale Silêncio ocuparam posições entre um excelente décimo oitavo lugar e um octingentésimo sexagésimo segundo.

Texto de: Leonel Neves


Classificações:
Pedro Arsénio – 36,37
Leonel Neves – 41,22
António Fernandes – 44,38
José Pereira – 44,41
Armando Almeida – 45,12
Hernâni Monteiro – 45,44
Fernando Avelino -46,39
Emílio Gonçalves – 53,37
Paulo Pires – 55,55

quinta-feira, 27 de maio de 2010

resultados Douro Vinhateiro

Foram os possíveis :
Rui Pacheco- 1h19' 21- sénior
João Inocêncio - 1h21'14- sénior
João Vaz - 1h26'42 -Vet.1
Luís Santos - 1h 29' 34 - sénior
Hernâni Monteiro- 1h 48'14- Vet.2
Leonel Neves- 1h48' 16 -Vet.4
José Pereira - 1h 50' 04 -Vet.5
José Moga - 1h 51' 32- Vet.3
Joaquim Gomes - 1h 55'21 -Vet.5
António Silva- 2h 10' 32- Vet.5
Fernando Silva - 2h10' 32- Vet.2
Emílio Gonçalves- 2h 18'30 - Vet.2

Para o ano vai ser melhor.......

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Relato da nossa aventura

Meia Maratona do Douro Vinhateiro 2010

Personagens

Amigo A

Amigo B

Amigo C

Amigo D

Amigo E

Amigo F

Amigo G

Amigo H

Amigo I

Amigo J

Amigo L

Amigo M

Amigo N

Amigo do Amigo G

Maria A

Maria B

Maria C

Maria D

Maria E

Maria F

Maria G

Mariazinha

Empregado de mesa

Condutor do autocarro

Elemento A do CCDL

Elemento B do CCDL

Elemento C do CCDL

A Acção passa-se em vários sítios e diferentes momentos

Nota prévia

A acção gira à volta da participação dos Amigos Vale Silêncio na Meia Maratona do Douro Vinhateiro.

Os diálogos foram engendrados e colocados na boca das personagens indiscriminadamente.

Quatro ou cinco personagens conseguem-se identificar facilmente, as restantes não.

Uma ou outra cena não decorreu no espaço físico descrito no texto. Algumas cenas foram forjadas, outras são bem reais.

ACTO I

Cena I – Amigo A (Em casa, frente ao computador, anuncia, no blogue do clube, a Meia Maratona do Douro Vinhateiro 2010)

- Amigo A – Bora lá! A prova é dia 23 de Maio. É preciso saber quem vai. Registem esta data na vossa agenda.

Cena II – Amigo A, Amigo B, Amigo C, Amigo D, Amigo E, Amigo F e Amigo G (Na corrida das Lezírias, antes da partida)

- Amigo A – (A todos.) Já decidiram se vão à Meia Maratona do Douro Vinhateiro, ou não?

- Amigo B – Não é muito cedo para pensar nisso?!

- Amigo A – Não. Há coisas que temos que tratar com tempo, designadamente o transporte e a dormida.

- Amigo B – Há com certeza um hotel para ficarmos ali perto!?

- Amigo A – Haver há, mas é muito caro como podes calcular, e não temos necessidade disso. Quatro ou cinco podem ficar em casa do Amigo I, e os restantes, existe a possibilidade de ficarem alojados no Centro Cultural e Recreativo de Ferreirim.

- Amigo C – Eu vou, está decidido.

- Amigo D – Ainda não sei! A Maria não está lá muito convencida.

- Amigo C – (Alto.) Não há como ser solteiro! (Baixo.) Não percebo estes tipos!

- Amigo F – É muito longe. Dois dias é muito tempo. A Maria não gosta de viajar, nem de ficar sozinha em casa. Tanto tempo fora de casa dá direito a divórcio por justa causa.

- Amigo A – (Alto.) Sendo assim é melhor não ir. (Aparte.) Estes gajos têm medo das mulheres!

- Amigo E – Vá lá, puxem pela cabecinha! Prometam às Marias (ainda que depois não cumpram a promessa) um cruzeiro ao mediterrâneo ou uma jóia bonitinha ou aquela remodelação da casa que há muito desejam fazer, e vão ver como não se importam de ficar sós dois ou três dias ou mesmo uma semana.

- Amigo G – Estou perante um dilema. Por um lado, gostava de ir com a malta, por outro lado, fazer cerca de quatro horas de viagem para cada lado não me agrada nada.

Cena III – Amigo F e Maria A (Em casa)

- Amigo F – Em Maio vai haver uma prova no Peso da Régua. O pessoal vai quase todo e eu também gostava de ir.

- Maria A – Deixa-te disso. Tens mais onde gastar o dinheiro. Vejam bem, ir correr para o Peso da Régua! Não basta ficar sozinha todos os domingos de manhã, quanto mais dois dias inteirinhos!

- Amigo F – Não penses que se gasta muito. Uns vão dormir a casa do Amigo I na noite de sábado para domingo, outros ficam no Centro Cultural e Recreativo de Ferreirim. Para nos transportar pedimos um autocarro à Junta de Freguesia dos Olivais. Pagamos o combustível e as portagens, e, eventualmente, as ajudas de custo do condutor. Dividido por todos dá uma bagatela a cada um.

- Maria A – Mesmo assim… é muito longe, não fico descansada. Sabes como eu sou, sempre a pensar no pior.

- Amigo F – Podemos ir de carro até Roalde. Tu ficas aí com os teus pais e eu vou ter com os meus amigos. Depois da prova vou ter contigo. Podemos ficar na terra mais uns dias, se quiseres.

- Maria A – Não, eu não vou, vai tu.

Cena IV - Amigo B e Maria B (Em casa)

- Amigo B – Dia 23 de Maio é a Meia Maratona do Douro Vinhateiro. Já te tinha dito, lembras-te? Estou a pensar ir, o que é que achas?

- Maria B – Por mim tudo bem. Dizem que é uma zona lindíssima!

- Amigo B – Sim, é muito linda. Além da bela paisagem, já de si inebriante, correr lado a lado com o Douro é um momento mágico, inesquecível.

Cena V - Amigo A (A mandar um e-mail para a Junta de Freguesia dos Olivais)

- Amigo A – Exmo. Senhor Presidente da Junta, o clube «Amigos Vale Silêncio» vai participar na meia maratona do Douro Vinhateiro, e, não dispondo de meio de transporte para toda a equipa, solicita os bons ofícios de V. Ex.ª no sentido de cedência de um autocarro, com mais ou menos 25 lugares. Informa-se que a saída, com destino a Vila Meã, está prevista para o dia 22 de Maio, pelas 7 horas, e o regresso para o dia 23 do mesmo mês, pelas 21 horas. Gostaríamos, de dar um passeio pelo Pinhão e zona circunvizinha, se for possível. Com os melhores cumprimentos.

Cena VI - Amigo L e Amigo M (Na Corrida dos Sinos, antes da partida)

- Amigo L – Existem palavras que só por si hipnotizam uma pessoa.

- Amigo M – Por que dizes isso?!

- Amigo L - Lembras-te da expressão «Bora lá» colocada astutamente, penso eu, no canto superior direito do blogue do clube, por baixo de «As próximas provas», que inicia o texto que anuncia a Meia Maratona do Douro Vinhateiro?!

- Amigo M – Sim, lembro-me muito bem.

- Amigo L - Pois é, amigo, sempre que visito o blogue lá está ela a piscar-me o olho, e, tanta piscadela me deu, que me convenceu. Aposto que fez o mesmo com outros.

- Amigo M – Como diz o ditado: Água mole em pedra dura, …

- Amigo L – … tanto bate até que fura.

- Amigo M - Aquele chamamento visceral, contínuo, irresistível; aquele magnetismo animal contagiante, relaxante física e mentalmente; aquele olhar hipnótico, predispõem o mais pimpão a levar a água ao seu moinho.

- Amigo L – Estás a falar de quê?

- Amigo M – Estou apenas a corroborar as tuas palavras proferidas acerca da tal expressão, e a dizer que também eu senti o seu poder persuasivo.

- Amigo L – E não podias dizer isso sem ligares o complicómetro!?

- Amigo M – «Poder podia, mas não era a mesma coisa».

Cena VII – Amigo A (Em casa, a mandar um e-mail a todos os Amigos)

- Amigo A – Amigos, hoje entrei em contacto telefónico com a Junta de Freguesia dos Olivais. Fui informado que ainda não havia uma resposta. Aguardemos, pode ser que ainda venha a tempo.

Cena VIII – Amigo A (Envio de dois e-mails, dois dias após informar os Amigos sobre o contacto telefónico com a Junta)

- Amigo A – (E-mail para a Junta de Freguesia.) Excelentíssima Senhora H. G., no seguimento da nossa conversa telefónica de hoje, vimos por este meio oficializar a nossa disponibilidade em garantir a alimentação e a dormida ao motorista do autocarro. Com os melhores cumprimentos. (E-mail para os Amigos.) Afinal parece que podemos contar com o autocarro da Junta. Hoje fiquei a saber que o assunto está bem encaminhado, só falta a assinatura do Presidente. Não sei bem, mas parece-me que o Presidente perdeu a caneta, e está à espera que lhe dêem outra para assinar a autorização.

Cena IX – Amigo A (Enviando um e-mail a todos os Amigos)

- Amigo A – Chegou a hora. O transporte está confirmado. Às sete horas da manhã na Junta de Freguesia dos Olivais.

FIM DO ACTO I

ACTO II

Cena I – Amigo A, Amigo B, Amigo C, Amigo D, Amigo E, Amigo F, Amigo G, Amigo H, Amigo J, Amigo L, Amigo M, Amigo N, Maria C, Maria D, Maria E, Mariazinha, Condutor do autocarro, (Reunidos no local e hora da partida para Vila Meã.)

- Amigo A – (A todos.) Prestem atenção! (A um grupinho de Amigos.) Eh, vocês aí! Importam-se de interromper a conversa uns segundinhos?! Obrigado. (Ao condutor.) O nosso destino é Vila Meã, perto de Lamego, sabe onde é? Conhece o caminho?

- Condutor – Sei onde é, sou dali perto.

- Amigo A – (Ao condutor.) Vamos pela A1, apanhamos o IP3, depois a A24, seguimos em direcção a Lamego/Moimenta da Beira/Tarouca, na rotunda saímos na 4ª saída para a N226. (A todos.) Faremos uma paragem para ir à casa de banho e beber qualquer coisa, e descontrair as pernas e aliviar a dor de costas. Além desta paragem, há outra obrigatória antes de chegar a Vila Meã. O Amigo do Amigo G tem um presunto e uns chouriços a estorvar lá em casa, e quer que o ajudemos a livrar-se deles, o que acham?! Devemos fazer-lhe a vontade ou não? (Riso geral). O almoço vai ser em Vila Meã, em casa do Amigo I. Vamos andando, que se faz tarde.

Cena II – Os mesmos (Na estação de serviço)

- Amigo M – Quem paga os cafés? Há voluntários?

- Amigo D – Voluntário!? Nem na tropa!

- Amigo E – Eu só pago cerveja.

- Amigo N – Bebidas alcoólicas só depois da prova.

- Amigo F – Conheci um grande atleta que o seu pequeno-almoço antes das provas era nada mais nada menos que duas sandes de presunto e dois copos de vinho. Devo dizer que esse tipo nasceu trás duma esteva, em Trás-os-Montes.

- Amigo C – E eu tenho um amigo que depois das provas não dispensa uma cervejinha preta e um cigarrito. Diz que a cerveja preta lhe faz bem.

- Amigo G – Afinal quem paga os cafés?! Parece que cada um vai ter que pagar o seu.

- Maria C – (A Maria D.) Onde será a casa de banho?!

- Maria E – Eu também tenho de ir fazer xixi.

- Maria D – Deve ser além, onde está aquela gente.

- Maria C – Vamos Mariazinha.

- Amigo H – Eu não tomo café, mas posso pagar.

- Amigo E – Haja Deus! Estava a ver que ninguém se chegava à frente.

- Amigo L – Há sempre uma alma caridosa.

Cena III – Os mesmos e o Amigo do Amigo G (À volta do chouriço, do presunto, do pão e da pinga)

- Amigo do Amigo G – Obrigado por terem vindo. Fico muito contente, acreditem.

- Amigo C – (Aparte.) Não fales antes de tempo, vê lá se te arrependes, olha que esta gente está esfomeada.

- Amigo A – Nós é que lhe agradecemos.

- Amigo do Amigo G – Estejam à-vontade. Comam e bebam sem cerimónia. Façam de conta que estão em vossas casas.

- Amigo F – (Ao Amigo do Amigo G.) Fez-me lembrar um episódio ocorrido na minha terra. Na minha aldeia, (noutras aldeias de Trás-os-Montes passa-se o mesmo), quando uma pessoa vai a casa de outra, é hábito o dono da casa oferecer de beber e de comer a essa pessoa. Um dia, o Manuel Balela, indivíduo um pouco atoleimado, isto é, sem os alqueires bem medidos, foi a casa de um vizinho dar um recado. O dono da casa foi buscar um salpicão, uma linguiça, metade dum centeio e uma garrafa de vinho. Pôs tudo em cima da mesa e disse ao Balela que comesse e bebesse o que lhe apetecesse. Ora o Manuel Balela, que estava com um apetite de quinze dias, começou a comer, a comer e não havia maneira de parar. E o dono da casa a ver a chouriça e o salpicão evaporarem-se e a rezar a todos os santos milagreiros conhecidos que o Balela deixasse, pelo menos, um cibo de salpicão para outra ocasião. Mas os santos estavam ocupados com outras coisas e não lhe deram ouvidos. Despachou a chouriça em menos de nada, e o salpicão estava quase. Quando já não podia comer mais, de tão farto, disse ao dono da casa: «Desculpa lá, mas não consigo acabar o salpicão». Ele achava que era falta de educação deixar algum restito no prato, e disso ele não queria ser acusado. Espero que não aconteça o mesmo connosco.

- Amigo do Amigo G – No que me diz respeito, isso não vai acontecer, podem comer e beber o que lhes apetecer, se for preciso vou buscar mais.

- Amigo F – Não leve a mal, estava a brincar.

- Amigo A – Até porque temos o almoço à espera!

- Amigo H – E o Amigo I ficava muito chateado com a falta de apetite do pessoal.

- Amigo J – Com um petisco destes quem é que ainda quer almoçar!?

- Amigo G – Estava tudo uma delícia. O material é de primeira. Obrigado por tudo. Foste muito simpático. Obrigado mais uma vez. Agora temos de ir, até à próxima.

Cena III – Amigo A, Amigo B, Amigo C, Amigo D, Amigo E, Amigo F, Amigo G, Amigo H, Amigo I, Amigo J, Amigo L, Amigo M, Amigo N, Condutor, Maria C, Maria D, Maria E, Maria F, Maria G e Mariazinha (A almoçar em casa do Amigo I)

- Amigo I – Comei e bebei, as contas serão feitas amanhã. Como é para amigos faço uma atençãozinha. Espero que seja do vosso agrado. Eu e minha esposa estamos muito contentes por estarmos rodeados de tantos amigos, pelo filho, pela nora, pelo neto, pela neta e pela cunhada. A casa é vossa, por isso não a estragueis. Alguns de vós já estiveram cá o ano passado, já conhecem o sítio. Depois do almoço vamos ver as ruínas do convento de Ferreirim, se quiserem, claro.

- Amigo A – Aproveitai, pois receio que vamos amargar o repasto. É que meu pai tem ali um saco de batatas serôdias prontinhas para semear.

- Amigo B – Acho muito bem. Pensam que é só encher a barriguinha?!

- Amigo F – Eu não me importo de fazer de capataz.

- Amigo C – Eu não posso pegar em alfaias agrícolas, fazem-me alergia.

- Amigo E – Eu posso andar com o garrafão do vinho e dar de beber à malta.

- Amigo D – (A Maria D.) O almoço estava óptimo, parabéns!

- Maria D – Obrigada. Ainda bem que gostaram.

- Amigo G – (Ao Amigo I.) Com uma recepção destas para o ano cá nos tens outra vez.

- Amigo I – Fazemos muito gosto em vos ter cá novamente.

- Maria C – (Entressorrindo.) Os alérgicos, os capatazes e os fãs de Baco ficam a arrumar a cozinha, enquanto os outros vão prà leira semear as batatas.

Cena IV – Amigo A, Amigo G e Amigo F

Amigo A – (Aos Amigos G e F.) Vinde cá os dois. Mandei fazer estas duas lembranças para oferecer ao Amigo I e ao Centro Cultural e Recreativo de Ferreirim.

- Amigo G – Ainda bem que te lembraste.

- Amigo A – Ao Amigo I vamos entregar-lha agora. (Ao Amigo F.) Toma lá, entrega-lha tu, não fica bem ser o filho a entregar-lha.

Cena V – Todos os Amigos, todas as Marias, Mariazinha e Condutor

- Amigo A – (A todos.) Venham cá. (A Maria D.) Venha cá, não fuja!

- Amigo F – (Ao Amigo I e Maria D.) Quis o destino que nos encontrássemos aqui, em vossa casa. Recebestes-nos de braços abertos. Para selar para a eternidade este momento de alegria e felicidade, em nome de todos os presentes, tenho a honra e o privilégio de vos entregar esta singela mas significativa lembrança.

- Amigo I – (Comovido.) Obrigado a todos. Não era preciso estardes com esta preocupação. Estamos muito sensibilizados e gratos pelo gesto.

Cena VI – Amigo A, Amigo D, Amigo E, Amigo F, e Amigo I (Visita às ruínas do convento de Ferreirim)

- Amigo I – Isto é o que resta do convento franciscano de Santo António. O convento e o pelourinho são o ex-libris cá do sítio.

- Amigo D – É com certeza muito antigo!?

- Amigo I – O aspecto actual deve-se a uma reforma levada a cabo no século XVI, mas já existia há não sei quantos anos ou séculos.

- Amigo D – Costuma vir cá muito turista visitá-lo?

- Amigo I – Alguns.

- Amigo F – (Ao Amigo I.) És natural daqui?

- Amigo I – Sou.

- Amigo F – Estiveste cá até que idade?

- Amigo I – Até ir prà tropa.

- Amigo F – Qual foi a sensação de regressar às origens depois de tantos anos?!

- Amigo I – Foi boa. Estive sempre ligado à terra, vim cá sempre que pude, por isso quando me reformei e vim para cá, não estranhei.

- Amigo F - Além de fazeres a tua corrida diária, que não dispensas, como é que passas o resto do tempo?

- Amigo I – Não falta onde passar o tempo: Preparo a terra, estrumo-a; planto umas couvitas, umas cebolas, beterrabas, pimenteiros, tomateiros, alfaces; semeio feijão, batatas, ervilhas, favas, ervanços; rego, sacho, mondo, colho os frutos, dou uma voltinha de vez em quando pelas redondezas e, quando sinto saudades, vou até Lisboa ver os filhos e os netos.

- Amigo F – Estás em forma para amanhã?

- Amigo I – Estou sempre em forma. Quero ver se faço abaixo das duas horas. E tu, como estás? Que tempo pensas fazer?

- Amigo F – Tenho andado um pouco em baixo. Se fizer uma hora e quarenta, é muito bom. Até porque quero apreciar a paisagem e se for em esforço não consigo. Tenho outro problema, se acabar exausto fico sem apetite para o almoço.

- Amigo E – (Ao Amigo A.) Ferreirim é uma freguesia pequena!?

- Amigo A – É. Tem uma área de 5, 51 Km2 e 1157 habitantes.

- Amigo I – Eh, pessoal! Está na hora de ir fazer o reconhecimento da zona.

Cena VII – Amigo A, Amigo B, Amigo C, Amigo D, Amigo E, Amigo F, Amigo G, Amigo H, Amigo I, Amigo J, Amigo L, Amigo M, Amigo N, Condutor, Maria C, Maria D, Maria E, e Mariazinha (Em São Leonardo de Galafura)

- Amigo H – (Ao Amigo M.) Estás a gostar? As expectativas criadas correspondem à realidade?

- Amigo M – Completamente. A paisagem é magnífica! Estou maravilhado.

- Amigo H – Não é por acaso que esta zona é considerada Património Mundial da Humanidade na categoria de Paisagem Cultural!

- Amigo E – (Aproximando-se e interpelando o Amigo H.) Ainda és do tempo em que, nos bancos da escola primária, se decoravam os rios e as serras de Portugal?!

- Amigo H – Sou. Por quê? Estás a chamar-me velho?

- Amigo E – Não. Estou só a testar os teus conhecimentos de geografia. Lembras-te onde nasce e desagua o rio Douro, que vês lá em baixo?

- Amigo H – Claro que sim. Nasce na Serra de Urbion, em Espanha, e desagua em São João da Foz, no Porto. Até te digo mais: tem 927 quilómetros de extensão, dos quais 330 em território lusitano.

- Amigo E – Fantástico! Ainda te lembras desses pormenores!?

- Amigo H – O que é que achas?!

- Amigo E – Não sei.

- Amigo H – Era bom, não era!?

- Amigo E – Bem me parecia.

- Amigo G – (Ao Amigo D.) Gostava de viver aqui.

- Amigo D – É um sítio paradisíaco sem dúvida, mas é duro. Quem vive aqui e não é rico, e tira da terra o seu sustento, tem as mãos calejadas todo ano, e suor nos sovacos de manhã à noite.

- Amigo G – Sim, deve ser fatigante, mas a beleza desta obra-prima da Humanidade, a paz de espírito e o ar puro que se respira compensam de longe tudo o resto.

- Amigo D – Ainda bem que pensas assim. Podias dedicar-te à viticultura, à enofilia ou à enologia, por exemplo.

- Amigo G – Pois podia, mas são profissões que requerem muitos conhecimentos, e eu nem sequer sei como se planta um bacelo, como se poda uma cepa, como se produz o vinho.

- Amigo D – Plantar um bacelo não tem ciência nenhuma, mas podar uma cepa e fazer vinho tem muito que se lhe diga. Já agora, uma vez que desconheces o assunto, deixa que te diga: a produção do vinho começa na vindima. Antigamente o desengace e a maceração eram feitos exclusivamente através da pisa nos lagares. Actualmente existem técnicas sofisticadas para o efeito. Apesar de subsistirem as técnicas ancestrais, hoje em dia a produção da maior parte dos vinhos é obtida em centros de vinificação, onde as operações de pisa e maceração são totalmente mecanizadas. Grosso modo podemos enumerar as seguintes fases da produção do vinho: 1ª: Desengace; 2ª: Maceração intensiva; 3ª: Fermentação alcoólica; 4º: Fermentação maloláctica; 5ª: Amadurecimento; 6ª: Envelhecimento.

- Amigo G – Gostei desta aula sobre vinho.

- Amigo D – Ninguém nasce ensinado, basta dispor-te a aprender. Eu tive o privilégio de aprender fazendo.

- Amigo G – É verdade, como também é verdade que me apaixonei por estas terras e por estas gentes quando li «Contos da Montanha» de Miguel Torga.

- Amigo D – Miguel Torga, pseudónimo literário de Adolfo Correia da Rocha, nascido e enterrado tão perto daqui, a escassos onze quilómetros, por estrada estreita e sinuosa, em São Martinho de Anta. Já estive ao pé da campa rasa onde jaz, junto da qual cresce uma urze, também chamada torga. Olha ali, aquele escrito é dele. Vamos ver. Cá está, só mesmo ele conseguia dizer o que disse sobre este lugar maravilhoso. Estão a chamar para irmos embora.

Cena VIII – Os mesmos (Reunidos à volta do Amigo A)

- Amigo A – Vamos lá combinar as coisas para amanhã. A partida da prova está prevista para as 11horas na Barragem de Bagaúste. Os atletas seguem em direcção à freguesia da Folgosa, onde dão a volta. A meta é no Peso da Régua. A CP e a REFER asseguram o transporte dos atletas da meta para a partida a partir das sete horas da manhã. É muito cedo?! Pois é! Não precisamos de apanhar o primeiro comboio, mas também não devemos apanhar o último. Vamos apontar uma hora. Sair daqui às oito horas!? Achais bem? Vamos de autocarro até ao Peso da Régua. Então fica assim. O percurso é plano e a paisagem maravilhosa, sempre junto ao rio Douro. Gozai bem o panorama. Dado o avançado da hora, o melhor é irmos já prà caminha para recobrar as forças perdidas durante a viagem e o passeio panorâmico. Às dez pràs oito, toda a gente deve estar aqui, pronta para sair.

- Amigo C – E se fossemos ver o concerto do tal tenor italiano?

- Amigo H – E por que não ir antes molhar a garganta a qualquer sítio?

- Amigo D – E que tal se fossemos fazer trinta minutinhos de treino para descomprimir?

- Amigo N – E se fôsseis todos dar uma curva ao bilhar grande?

Cena IX - Amigo B, Amigo C, Amigo D, Amigo E, Amigo F, Amigo G, Amigo H, Amigo J, Amigo L, Amigo M, quatro Elementos do CCDL e duas Crianças (De noite, no dormitório do Centro Cultural e Recreativo de Ferreirim)

- Amigo L – Vamos tentar adormecer antes que cheguem os tipos do Loures, depois é impossível.

- Amigo B – Quando essa malta chegar vai fazer um escabeche que ninguém vai conseguir dormir em toda a noite.

- Amigo L – Podes crer.

- Amigo F – Há muito tempo que não dormia numa caserna.

- Amigo M – E eu nunca dormi em nenhuma. Não fazia ideia como era uma caserna.

- Amigo E – Pois é, não foste à tropa!

- Amigo C – Lá vêm eles! Apaguem as luzes, para ver se não fazem barulho.

- Elemento A do CCDL – (Aos berros, abanando com força os beliches.) Está tudo a acordar! Ninguém dorme esta noite, caralh…! Toca a acordar!

- Amigo J – Cala-te, não faças barulho, o Amigo D está a dormir, a noite passada não dormiu nada.

- Elemento A do CCDL – (Alto.) Vão prò caralh…! Ninguém dorme, já disse. (Baixo às duas crianças.) deitem-se aqui nesta cama, que eu já venho.

- Amigo H – (Ao Amigo N.) Vamos tramar o gajo? Vamos-lhe esconder o colchão e o travesseiro?

- Amigo N – Vamos depressa enquanto está na casa de banho.

- Elemento A do CCDL – Quem foi o cabrão que tirou o colchão?! Agora é que vão ser elas! Agora é que ninguém vai dormir, podeis ter a certeza! Vão prò caralh…! Foste tu meu paneleiro!?

- Amigo D – Olha as crianças!? Mais respeitinho!

- Elemento A do CCDL – As crianças estão habituadas a este tipo de linguagem!

- Elemento B do CCDL – (Bêbado como um cacho, depois das luzes apagadas.) Onde é a minha cama? É esta? Como subo lá para cima? Não sei se consigo! (ouvem-se risos aqui, ali e acolá).

- Amigo N – (Baixo, ao Amigo H.) O Elemento C do CCDL entrou caladinho que nem um rato, subiu como um foguete para a cama de cima e não se mexeu mais, nem tossiu nem mugiu, é como se tivesse morrido.

- Amigo H – Que grande cadela ele tem! Pelo menos não incomoda ninguém.

- Elemento B – Parece que anda tudo à roda, o que é que está a acontecer?! Algum tremor de terra?! (Risos, peidos, risos, traques, risos, flatulências, risos, flatos, risos, gases, aqui, ali, além, no canto, ao pé da janela).

- Amigo F – Não há condições! Não tenho idade para estas coisas! Duas da manhã e o forrobodó continua. Vou mas é pegar no colchão e ir tentar dormir ali ao lado. (traques, risos, ressonar, peidos, risos, ressonar, gases, risos, roncar, risos)

- Amigo J – Mas que grande festa! Amanhã é que vai ser! Vou adormecer na prova.

- Elemento D do CCDL – Assim não dá. Vou sair daqui e é já.

- Amigo C – Vou-me mas é pirar daqui, é impossível conseguir adormecer. Aí vou eu com o colchão debaixo do braço. Caguem-se, ronquem, riam-se à-vontade.


FIM DO ACTO II

ACTO III

Cena I – Todos os Amigos, Maria C, Maria D e Maria E (Na meta, à medida que iam terminando a prova)

- Amigo C – (Olhando o relógio.) Uma dezanove trinta e dois. Nada mau, tendo em conta as péssimas condições atmosféricas e a falta de água! Devo estar entre os primeiros cinquenta da geral! (Ao amigo D que acaba de chegar.) Então! Como te correu a prova? Gostaste do percurso?

- Amigo D – O percurso é excelente. É praticamente plano, bom para bater recordes. Apesar disso a prova não me correu nada bem. Acusei o cansaço da viagem, a noite mal dormida, o calor e a falta d`água. Sabias que há um prémio de vinte mil euros se for batido o recorde do mundo?

- Amigo C – Desconhecia a existência desse prémio, senão tinha-me esforçado um pouquinho mais, talvez conseguisse. (Risos.) Eu também gostei do percurso. O problema foi mesmo a falta de água durante o percurso. É inadmissível!

- Amigo D - É pena não haver mais gente ao longo do percurso a ver a corrida. Em contrapartida tivemos os aplausos e a saudação da passarada e outra bicharada incógnitas; das águas do rio Douro, onde, em tempos não muito distantes, os célebres barcos rabelos deslizavam ao sabor do vento, entre o Porto e a Régua, carregados de tonéis cheios de Vinho do Porto; e das encostas fortemente declivosas, cingidas por vinhedos parrudos, alinhados uniformemente qual exército frente ao inimigo, semelhantes a curvas de nível. A actividade destas embarcações, típicas do rio Douro, entraram em declínio em finais do século IXX com a conclusão da linha do caminho-de-ferro do Douro. Em meados do século XX restavam apenas meia dúzia destes barcos em actividade constante. Hoje fazem as delícias de turistas e participam numa ou noutra regata.

- Amigo C – E eu que pensava que os barcos rabelos actuavam somente entre o Porto e Gaia, afinal a sua zona de acção era muito maior. Olha! Lá vem mais um dos nossos. Falta outro para fechar a equipa. Já nos viu.

- Amigo G – Chegastes há muito?

- Amigo C – Eu cheguei há cinco minutos.

- Amigo D – E eu logo a seguir.

- Amigo G – Até aos quinze quilómetros andei bem. A partir daí fui quebrando, quebrando, quase parei. Depois recuperei e, como vistes, até nem vinha mal. A organização é que se portou muito mal. Como é que é possível falharem com a água, e ainda por cima com uma brasa destas?! Nunca vi tanta gente andar a passo numa meia maratona! Nem as ambulâncias terem tanto trabalho! Está a chegar o quarto homem. Vamos ter com ele.

- Amigo E – Correu-me pessimamente. A partir dos dezoito quilómetros tive de abrandar bastante, e, aos vinte, fui a passo uns quinhentos metros. Terminei a prova a muito custo. Por equipas devemos estar bem classificados, ou não!? Quantos contam para a equipa?

- Amigo D – Acho que contam quatro. Estão a chegar mais dois dos nossos.

- Amigo F – O prazer de correr num sítio destes, sentindo as fragrâncias selvagens que pairam no ar, mesmo num calor tórrido como este, e a água que não se deixou ver, é o maior e o mais importante prémio que se pode dar a um verdadeiro atleta. Até parece masoquismo, não é?

- Maria D – (Ao Amigo F.) Viu o meu marido?

- Amigo F – Vi. Ficou ali atrás a falar com ama pessoa conhecida.

- Maria D – Já estava preocupada, tanta gente a ir parar ao hospital!

- Maria E – (Ao Amigo F.) Viu o meu filho?

- Amigo F – Vi. Quando passei ali há bocadinho, estava ele a dar água aos nossos.

- Maria E – Se o vir diga-lhe que estou aqui à espera dele.

- Amigo B – Já está! Mais uma prò currículo! Venha a próxima. Estais com ar de quem gostou da prova. Pareceis fresquinhos como uma alface. Nem os trinta e três graus que se fizeram sentir, nem a falta de água vos tirou o viço. Haveis de me dizer que raio de «bomba» meteis no bucho para correrdes tanto e ficardes assim fresquinhos!

- Amigo C – Queres mesmo saber?

- Amigo B – Quero.

- Amigo CA fórmula parece simples, mas é complexa. Ei-la: Cumprindorigorosamenteoplanodetreino. Sabes o que isso é!? Experimenta e vais ver! Estão a chegar mais dois. Vamos ao seu encontro.

- Amigo L – Já cá canta mais uma. Já perdi a conta às meias maratonas que fiz. Esta é, sem dúvida, a que aprecio mais. A organização é que meteu água ao falhar com a água nos abastecimentos. Estais fartos de esperar, não!? Quem é que ainda não chegou?

- Amigo B – Ainda falta chegar muita gente. Devem estar aí a aparecer.

- Amigo H – Adeus, até prò ano. Já almoçava! Não há aí nada que se coma? Estou cá com uma larica! Lá vem o Amigo I.

- Amigo I – Esta já não dói nada. Quem é que disse que uma meia maratona é muito difícil?! É preciso ver a coisa pelo lado positivo. Estava muito calor? Pois estava. Faltou a água? Pois faltou. A culpa foi nossa? Não. Então por que nos queixamos? Onde está o resto do pessoal?

- Amigo B – Anda prà i a laurear a pevide, ou a mitigar o sofrimento à sombra duma árvore. Chegam aos pares, lá vêm mais dois Amigos Vale Silêncio.

- Amigo M – Que alívio! É como respirar depois de emergir de um mergulho em profundidade. É uma sensação deveras agradável. O que é preciso agora é fazer alongamentos para os músculos irem ao lugar e beber muita água para hidratar.

- Amigo E – O que é preciso agora é ir almoçar quanto antes, e comer uma boa costeleta de novilho mal passada, e uma pinga jeitosa a acompanhar. Olhem só quem está a cortar a meta neste momento, o Amigo A.

Amigo A – Ai de mim, Santo António, padroeiro de Ferreirim! Estou faminto e cansado, mas feliz e enamorado de ver toda esta gente ao pé de mim. A fome e o cansaço passam, mas a beleza deste torrão dourado é infinita e não tem comparação noutro lado.

- Amigo F – Que lindo! Parece poesia! É um verdadeiro hino à tua terra. Faltam duas cartas do baralho. Não, falta uma, que a outra já lá vem.

- Amigo N – Custou-me um bocadinho, está um calor de rachar, mas gostei muito do percurso e da paisagem. Faço votos de cá voltar, só ou acompanhado. A organização é que não esteve à altura do evento. Podemos dizer que é a mais bela corrida do mundo, e a pior organização de sempre.

- Amigo D – prò ano estamos cá caídos novamente. Esperemos que a organização aprenda com os erros. Lá vem o carro da vassoura dos Amigos Vale Silêncio. Vamos saudá-lo.

- Amigo B – (Ao Amigo J, acabadinho de chegar.) Pensas que a malta não tem mais que fazer do que esperar e esperar e esperar!? Se fosse tempo deles, dizia que tinhas ido aos figos, mas as cerejas temporãs já pintam! Não me digas que não lhe resististe!?

- Amigo J – (Cansado, mas sorridente.) Não, não fui às cerejas, nem aos figos, nem às uvas. E também não fui o último. Atrás de mim ainda vinha muita gente. Mas se vos fiz esperar assim tanto, deveis culpar esta barriguinha que não me deixou andar mais depressa. Mas é uma maravilha, não é!? Quanto dáveis para ter uma assim?!

- Amigo B – Deixa-te de conversa fiada. Estamos fartos de esperar por ti. Vê se treinas mais. Não sei se sabes, existe uma coisa chamada «abdominais», é muito boa para tratar de barriguinhas grandinhas. Como diria um nosso Amigo, actualmente em terra africana, para a próxima vais a pé, ou à boleia, digo eu.

- Amigo A – Vamos ver se a classificação já saiu.

Cena II – Todos os Amigos (Uns atrás dos outros, conversando, cumprimentando um ou outro conhecido, dirigem-se para o local onde as classificações estão a ser afixadas. Aí chegados, procuram com a vista os tempos e o lugar na geral, e por escalão, e a classificação colectiva)

- Amigo A – Que merda de organização! Nem sequer fizeram a classificação geral, nem por equipas! O que está aqui é a classificação por escalões, nada mais! Espera lá!? Que é isto!? Andou toda a gente a passear na avenida, ou o quê?! Que tempos são estes!? Tenho que começar a fiscalizar os treinos como fazia antigamente. Enfim, até nem está muito mau! Eis meus senhores a classificação por escalões: Um décimo oitavo, um vigésimo, um vigésimo primeiro, um vigésimo sexto, um trigésimo sexto, um trigésimo sétimo, um quadragésimo oitavo, um sexagésimo quinto, um nonagésimo sétimo, um centésimo quinto, um centésimo quinquagésimo segundo e um centésimo septuagésimo oitavo. Queríeis mais?! Désseis corda às sapatilhas. Vamos embora, que o almoço espera-nos.

Cena III – Os mesmos, o Condutor, as Marias C, D, E, F e G, a Mariazinha e o Empregado de Mesa (Durante o almoço no restaurante)

- Empregado – (Numa mesa.) Já escolheram?

- Amigo D – Já. Para começar traga duas doses de ensopado de enguias. Depois são quatro doses de cabrito assado, se faz favor.

- Empregado – E para beber? Temos óptimos vinhos desta região, mas também temos outros vinhos muito bons.

- Amigo D – (Ao Empregado.) Para beber pode ser um Post Scripton Tinto 2007. (Aos Amigos.) Não é muito caro e é bom.

- Amigo E – O que é um «Post Scripton Tinto 2007»?

- Amigo D – é um vinho Douro, com 14%vol, envelhecido em carvalho francês e que escorrega que nem ginjas.

- Amigo B – (Ao Amigo D.) O que tu percebes de vinhos!

- Empregado – (Noutra mesa.) Então, o que vai ser?

- Amigo I – Para já, traga duas doses de enguias fritas. Para beber pode ser uma de Callambriga Tinto 2005. Depois veremos o que há-de ser.

- Empregado – Fizeram uma boa escolha. As enguias são um pitéu, e o cabrito está uma delícia. O vinho é muito bom e a qualidade/preço é razoável.

- Amigo J – O que é que ele quis dizer com «razoável»?

- Amigo I – Quis dizer que, tratando-se de um vinho intenso e elegante, equilibrado e encorpado, dezassete ou dezoito euros, não é muito.

- Empregado – (Noutra mesa.) Já fizeram a vossa escolha?

- Amigo A – Uma dose de sável, uma de borrego, uma de coelho à caçador, uma de cabrito, uma garrafa de água, uma cerveja, uma Coca-Cola, um sumo de ananás, e, para compensar a água, a cerveja, o sumo e a Coca-Cola, traga uma garrafinha de vinho que seja elegante, saboroso, intenso e perfumado, elaborado a partir de castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Barroca e envelhecido em carvalho francês durante nove meses. Pode ser?

Empregado – Pode. Com essas características temos o Collection Tinto 2007.

- Amigo A – Esse mesmo.

- Empregado – (Noutra mesa.) Já pensaram o que vai ser?

- Amigo H – Estamos indecisos!

- Empregado – Posso dar uma ajuda?

- Amigo H – Pode e deve.

- Empregado – O cabrito no forno está muito bom. Para beber podem optar por um Douro, por exemplo, Duas Quintas, Bons Ares; ou então por um Dão, por exemplo, uma Quinta dos Carvalhos Tinto Alfrocheiro de 2003; ou ainda, se preferirem, um alentejano, por exemplo, um Esporão reserva 2007. São todos vinhos de grande qualidade, prontinhos a sacrificar a sua existência no cumprimento da sua missão.

- Amigo H – (Depois de consultar a mesa.) Sendo assim, são quatro doses de cabrito e um Esporão para o empurrar, como é alentejano, sempre fermenta mais lentamente. Mas traga também uma garrafinha de água que este amigo (indicou com o olhar o Amigo J.) não pode sequer cheirar álcool, está terminantemente proibido pelos médicos.

- Amigo J – (Ao Empregado.) Não lhe ligue, ele é um brincalhão. Agora é que vamos ver quem anda mais depressa, quem chega primeiro à meta! Venha lá o mais pintado. Façamos uma aposta. Se eu comer duas doses normais de cabrito e beber uma garrafita de esporão pagais a minha parte, se não conseguir comer as duas doses e beber a garrafa de vinho, pago eu a despesa toda. Pode ser?

- Amigo F – Que grande lateiro! Não queres mais nada?! Talvez o …inho lavado com água-rosada!?

Cena IV – Os mesmos, excepto o Empregado (Despedida do Amigo I e das Marias F e G. Um a um, todos os Amigos se despediram)

- Amigo F – (A Maria D.) Obrigado por tudo. Desculpe o incómodo. (Ao Amigo I.) Bons treinos, e até prò ano.

- Amigo I – Até prò ano. Cá vos esperamos.

- Amigo F - Ainda tens coragem de convidar novamente esta cambada!?

- Amigo H – (Ao Amigo I) Podíamos vir oito dias antes da prova para um mini estágio, o que é que achas?

- Amigo D – Mama, mas não abuses.

- Amigo H – Foi só uma sugestão!

- Amigo D – E eu estava só a brincar contigo.

- Amigo A – (Beijando o Amigo I e as Marias F e G.) Meus queridos, quando chegarmos a casa damos notícias.

Cena V – Os mesmos, excepto o Amigo I e as Marias F e G, e o Motorista (Na hora de regressar a casa)

- Amigo A – (Ao Motorista.) Gostou do passeio? Foi bem tratado? Houve alguma coisa que não aconteceu como desejaria?

- Condutor – Gostei do passeio, gostei do que vi, fui muito bem tratado e correu tudo lindamente.

Amigo A – Ainda bem. Nós também gostámos da sua companhia, da sua condução e da sua simpatia e afabilidade.

- Condutor – Muito obrigado.

Amigo A – (A todos.) Vamos regressar aos nossos lares, aos nossos doces lares. (Ao Motorista.) Vamos com calma, não temos pressa, temos tempo de chegar. Vale mais perder um minuto na vida do que a vida num minuto. (Aos Amigos.) De qualquer forma, as Marias que ficaram em casa já estão chateadas. A propósito, tende cuidado ao entrar em casa, não vá a Maria estar atrás da porta com a colher de pau para descarregar a bílis em cima de vós.

- Amigo D – Obrigado pelos sábios conselhos.

- Amigo – J – E se fossemos andando, que a viagem é longa!?

- Amigo A – Sim, vamos embora.

- Amigo M – Não façam barulho, vou ver se passo pelas brasas.

- Amigo B – Pchiu! Quero dormir.

- Amigo D – Senhor Motorista, não ouço a música, levante o som um bocadinho, se faz favor.

- Amigo N – Senhor Motorista, não faça isso!

- Amigo j – Vou contar uma anedota, querem ouvir ou não? (Uma confusão de vozes sussurrou sim e não simultaneamente.) pareceu-me que os sins venceram os nãos, por isso aí vai: Trata-se de uma anedota destinada a crianças a partir dos sete anos. Está na moda e tem dado uma grande celeuma entre os professores. A anedota compara a professora a uma vaca. Então é assim: na escola «a professora verifica se a lição sobre os animais está bem estudada por todos os alunos:

- Meninos! Que é que dão os carneiros?

- Os carneiros dão-nos lã.

- Muito bem! E a galinha?

- A galinha dá-nos ovos.

- Perfeito. E a vaca?

- A vaca dá-nos trabalhos para casa.»

- Amigo C – Deve ser porque é uma anedota para crianças que ninguém aqui achou piada nenhuma. Mas eu vou contar uma de alentejanos, com muita piada. Que me desculpem os alentejanos: «Estavam dois homens e um Alentejano. Um dos homens diz assim:

- O pensamento é a coisa mais rápida do mundo, basta uma pessoa pensar e já está.

Vai outro e diz assim:

- Não, a coisa mais rápida do mundo é a electricidade. Basta uma pessoa ligar o interruptor e acende-se logo a luz.

Vai o Alentejano e diz:

- Nã senhora, estão todos enganados. A coisa mais rápida do mundo é a caganeira. Veja lá que eu esta noite nã tive tempo p'ra pensar nem tã pouco p'ra acender a luz e caguei-me todo.»

- Amigo G – Irra! Calem-se, deixem-me dormir.

Cena VI – (Chegada a Lisboa)

- Amigo D – Ai! Minhas costinhas…

- Amigo N – Ui! Minhas perninhas…

- Amigo L – Uf! Estava a ver que nunca mais chegávamos.

- Amigo N – Parece uma turma de aleijadinhos!

- Amigo D – Vamos ter com as Marias.

- Amigo G – Para não surpreender nem ser surpreendido, mandam as regras da prudência telefonar para casa dizendo à Maria que está quase a chegar.

- Amigo H – Addio a tutti.

- Amigo C – Goodbye.

- Amigo A – Au revoir

- Amigo B – Adiós amigos.

- Amigo F – Vemo-nos por aí.