Uma aventura em Conímbriga
É mesmo de corrida-aventura que se trata, caros amigos, como por certo saberão. Até porque alguns de vós já experimentaram esta modalidade que cresce de entusiasmo. Isto para além, claro está, do experiente Pára Joaquim Adelino. Pois foi sabendo que ele por ali estaria que decidi avançar de peito aberto nessa prova radical. E cumpri os 30Kms do Trail Terras de Sicó, em Condeixa a Nova. Cumpri, mas bem sofri. Hoje, cinco dias depois, os meus músculos ainda recuperam do esforço. No entanto, durante a massagem de recuperação de 50 minutos, entregue às mãos experientes da D. Fátima do ginásio Solinca, as dores musculares, temperadas com os movimentos relaxantes, faziam-me reflectir na prova. E ansiar pela próxima. Os 29 kms dos Trilhos dos Pastores, dia 27 de Março.
Já agora, um aparte antes de partilhar a minha experiência de maçarico dos Trails. Fui ontem (quinta, dia 3) à RTP gravar uma pequena entrevista para apresentar o filme ‘Momentos de Glória’, que passará na RTP Memória no dia 4 de Abril. Já agora, não percam, pois falo desta prova, mas também do grupo Amigos do Vale do Silêncio J Fica o convite.
Apesar de ter reservado antecipadamente um lugar no pavilhão em Condeixa para pernoita antes do dia da prova, decidi seguir o conselho do Adelino e viajar no próprio dia. O que significou alvorada às 4h30 e pouco, para estar em Sta Iria uma hora depois. Éramos quatro: eu, o Adelino, o Mário Lino e o Fernando Andrade. Viajem tranquila e chegada a boas horas. Mas logo na verificação do equipamento deu para perceber como ia mal preparado: ténis com sola para estrada e sem camisa de mangas, falta de cinco para levar algum mantimento (ou guardar as chaves do carro)... Maçarico paraquedista!!!
Começa a prova e percebo que dá para acompanhar o verdadeiro Pára. Desde cedo, percebo que a minha principal preocupação seria a de evitar a qualquer custo a entorse que espreita a cada descida e piso repleto de calhaus, pedras e buracos. É, por isso mesmo, uma prova que se faz de olhos colados no solo. E que, momentaneamente, nos impede de observar a magnífica paisagem, sempre em mutação.
Em ritmo de aquecimento, passamos as ruínas de Conímbriga e começamos com algumas subidas ligeiras. E logo me adaptei à inteligência estratégica de gestão de esforço do Adelino. O que deu até para gerir a crónica mazela muscular do meu presunto direito, que tantas vezes me deita abaixo. Por aí, não houve problema. Rapidamente aqueci, com as constantes subidas calmas. Mas também depressa percebi que eram as descidas o maior problema dos Trilhos, com um consequente esforço para os quadríceps e outros músculos da coxa.
Tudo foi bem até aos 20 kms, em que passámos com 2 horas. Foi também aí, durante o abastecimento, que decidi fazer um alongamento. Mas senti o músculo contrair, obrigando-me à medida de protecção inversa. Mau sinal. Pois pouco mais adiante, mesmo antes do sopé de uma nova escalada, os músculos da parte interna da coxa claudicaram, atirando-me para o chão, sem me dar possibilidade de os esticar. Tive mesmo de receber ajuda de companheiros que chegavam. Um momento crítico que me fez pensar que ficava por ali. Foi também isso que terá pensado o Adelino, quando me avistou já no cimo da colina. “O miúdo fica por ali”, terá pensado. Mas não. Passados alguns minutos deu para recuperar e recomeçar a subida. Depois, mais adiante, por volta dos 25 kms, outra recaída e nova paragem forçada. Depois foi sempre em pára-arranca até à meta, para um total de 4h18m.
Olhando para trás e avaliando a prova, pode impressionar o tempo (o meu também não é referência para ninguém...), mas a verdade é que as sucessivas paragens (a andar) em pisos íngremes, permitem também uma recuperação constante, o que torna a prova numa excelente alternativa às maçadoras provas de estrada. Sim, e faz trabalhar músculos diferentes. Alguns (no meu caso, pelo menos) que nunca tinha sentido com tanta intensidade. Já no balneário, a vergonha do atleta iniciado, com câimbras sucessivas (até nos dedos dos pés!!!). Sim, tiveram de me ajudar a calçar as meias... Agora dá para rir, mas na memoria fica uma experiência física inesquecível. Que não posso deixar de aconselhar.
De resto, a prova é bastante agradável. Sem marcação de distância e apenas com as fitas a marcar a passagem. Um aspecto que motivou uma brincadeira dos locais, que as trocaram e motivaram uma confusão entre os atletas da frente a perderem vários minutos até perceberem qual o caminho. Está tudo captado (bem como outros excertos da prova) por num vídeo captado pelo campeão J. Serrazina (e que poderá ser visto no blogue do Pára que não para).
A distância era medida pelos pontos de abastecimentos, a cada 5 kms. Pits stops bem fornecidos com água, marmelada aos 5kms, e laranjas, bananas e tapas de queijo local (!!) nos restantes. Houve até alguns atletas que não enjeitaram a faceta mais gastronómica e aceitaram mesmo um ‘copinho’ do branco local... No nosso caso, deixámos o ‘copinho’ para o almoço de arroz de pato, antes da viagem de regresso a casa.
Dia 27 há mais.
Paulo Portugal