A minha (nossa) Maratona
Porto
2015 – 11 – 08
Em Novembro de 2014, aquando da prova de 16 kms (Family Race)
incorporada no programa da Maratona do Porto de 2014, e apesar das dores que me
assolaram durante os três primeiros kms, começou a crescer em mim uma vontade
de no ano seguinte não subir a avenida da Boavista logo aos 15 kms, mas sim
continuar pela direita e prolongar a minha corrida para a famosa e dura
Maratona.
Desde essa data que mentalmente me tenho preparado para essa tarefa,
estudando vezes sem conta o percurso na minha cabeça. Delineei um plano de
treino ambicioso e duro que me preparasse de modo conveniente.
No início esta aventura seria solitária, tentando angariar,
companheiros que me ajudassem em algumas partes do percurso. Seria muito mais
agradável correr acompanhado de alguém conhecido do que sozinho.
Logo de seguida surgiu na minha caminhada um grupo de amigos, de
Lisboa, os AMIGOS VALE SILÊNCIO, que me acolheram no seu seio, e me tornaram
num amigo deles... E a partir daí, tudo mudou… Tinha a certeza que não me
faltaria apoio moral, nem técnico (caso fosse necessário) porque os amigos
estão cá para tudo…
Passado umas semanas, a minha companheira de treinos (a minha irmã)
decidiu-se em participar também, pois se treinávamos juntos, porque não
fazermos os 42.195 metros também juntos.
E “partimos” para muitos e muitos treinos, muitos e muitos quilómetros
nas pernas, muitas dores, muito sofrimento, muitas cedências (Tantas
francesinhas deixei eu de comer!!!) e sempre a consolação de estarmos cada vez
mais perto do objectivo…
Na véspera da Maratona, conhecemos finalmente alguns dos nossos Amigos
Vale Silêncio, que iriam fazer a Maratona (Já tínhamos conhecido dois na Régua)
e o acolhimento foi de amigos que já não se viam há anos, mas que continuavam a
darem-se muito bem… Não nos conhecíamos pessoalmente mas parecia que nos
tínhamos visto no dia anterior. Malta porreira…
No dia da Maratona, eu e a Sandra, chegamos mais cedo ao recinto e
relembramos a táctica de corrida… E essa táctica era muito fácil… Correr os
primeiros 15 kms com calma, não nos deixando entusiasmar pelas pessoas da
Family Race e partir depois para o treino de 4 semanas antes. Sim porque o
treino longo de 32 kms foi efectuado no percurso da prova e essa parte seria
encarada como mais um treino… Depois tínhamos combinado desde o início que,
acontecesse o que acontecesse, a prova seria para acabar a dois, e nenhum dos
dois ficaria para trás…
O nervosismo crescia consoante o tempo para o início da prova
diminuía…
Eis que se dá a partida… No meio de tanta gente, trocamos olhares e
não nos desejamos boa sorte, nem nada do género… Apenas dissemos um até já
àquele chão que pretendíamos pisar 5 horas depois.
Partimos com calma, a Sandra com um belo sorriso e eu com os meus
famosos adesivos azuis nos joelhos…
Passados 3 kms reparei que tinha cometido um erro de principiante (o
primeiro). “Não mudar nada de nada ao que já estamos habituados”. E o que é que
eu mudei??? A marca das fitas de Kinésio… Os meus adesivos que deveriam durar
48 horas colados sem sair do sítio estavam a descolar 15 minutos após a
partida. Resultado? Tive de tomar a decisão de os retirar e arriscar uma dor de
joelhos… Então, o momento caricato da nossa prova… Decido ir até ao passeio
para retirar os adesivos, subo o passeio, não reparo num buraco, tropeço, e
entre o cai, não cai, “decidi” cair… Esfolei o cotovelo e a palma da mão…
Mas isso só nos fez rir, pois, voltando ao treino longo, a Sandra teve
um momento destes na Afurada, mas conseguiu manter-se de pé (Chamamos-lhe o
momento Matrix) e no mesmo treino, ao incentivar a Sandra nos últimos metros
não vi uma rampa e estatelei-me no alcatrão. Tínhamos prometido refazer as cenas
no final da prova, mas eu tratei logo do assunto aos 4 kms.
Depois da queda tudo se desenrolou bem e chegados aos 14 kms, dá-se a
separação da Family Race e da Maratona… Foi talvez o momento mais emocionante
que tive durante a prova… Naquele momento deixaria de ser um corredor qualquer
para ser Maratonista…
A partir desse momento seguia-se o treino…
Aos 20 kms decido parar para ir à casa de banho… Fico parado à espera
que uma das duas casas de banho ficasse livre e durante 3 a 4 minutos esperei
pensando em ir-me embora… A Sandra tinha continuado… Lá ficou uma livre e
depois de “mudar a água às azeitonas” reparti tentando alcançar a Sandra, e aí
dá-se o segundo erro… Feitos 20 kms a um ritmo mais calmo, decido tentar
apanhar a Sandra ao meu ritmo e sem os meus adesivos, o joelho esquerdo, com o
esforço, decidiu dar ar de si e iniciou-se uma dor crescente…
Mas continuei a correr.
Ao passar pela ponte D. Luís, tivemos o precioso apoio de uns primos.
Retemperou-nos bastante e seguimos em direcção a Afurada. Por essa altura,
cruzámo-nos com o Armando Almeida que tinha desistido… Chegados à Afurada, a
Sandra cedeu-me a sua joelheira para ver se eu aguentava mais um pouco. Aliviei
a dor, mas o percurso de volta foi feito em corrida mais lenta e por vezes a
passo. Devagar, devagarinho, lá fizemos os 12 kms finais, mais com o coração do
que com as pernas. Tivemos um excelente apoio do movimento criado pelo Ricardo
Bomtempo que criaram um ambiente fantástico para se poder terminar a prova.
A 2 kms do fim, já não havia nada a fazer… íamos acabar a Maratona e
quer eu como a Sandra seríamos Maratonistas…
5 horas e 23 minutos após a partida, lá chegamos à meta, com os nossos
familiares à nossa espera com um sorriso enorme e dois sacos de gelo…
Éramos MARATONISTAS…
Após abraços e beijinhos, medalha e T-shirt Finisher, sentámo-nos e
fizemos o balanço da nossa Maratona.
A Maratona não é o bicho papão de que se fala. Quando há treino, é
realizável.
Não vimos o famoso Muro… Acho que se escondeu à nossa passagem… Mais uma
vez o treino ajuda.
A Maratona feita com companhia e encarada como um treino, sem
preocupação de tempos é uma prova bonita…
Quando numa prova dessas se diz que não se deve mudar qualquer hábito,
quer dizer mesmo… NÃO MUDAR NADA…
Termino agora com os
agradecimentos:
Em primeiro lugar às duas pessoas
mais importantes da minha vida: a minha Esposa que fez anos no dia da Maratona
e a minha filha que me encantou com o seu carinho à chegada;
À minha irmã que partilhou muitos
treinos comigo e que apesar de a ter “levado ao colo” em tantos treinos acabou
por me “levar ao colo” durante a prova;
Aos meus AMIGOS VALE SILÊNCIO
pelo apoio e simpatia que demonstraram;
Ao meu pai pela ajuda nos treinos
longos, ao fazer de aguadeiro;
A minha mãe, pelos comentários sempre
incentivadores nas nossas fotos no facebook;
Ao meu irmão pela preparação
física que me forneceu;
Ao meu primo Toninho e família
por terem estado na ponte D. Luís a aplaudir-nos;
Ao Sr. Jorge Querales que foi o
nosso motivador ao vermos a reportagem sobre a Maratona de 2014 (Foi o último
em 2014, mas foi grande em acabar a prova) e com o qual dividimos os últimos 20
kms este ano… Foi o único atleta com quem mantive uma conversa mais longa em
amena cavaqueira…
E por fim ao Bitó… mais precisamente à música do Bitó… que
não tive de cantar para animar a Sandra…
Voltarei a correr uma Maratona???
Talvez não… mas também, há 3 anos atrás, não pensava correr
esta… O futuro dirá…
Agora venham de lá os Trilhos…
Boas Corridas
Vitor Costa
3 comentários:
Parabéns ao amigo Costa pelo excelente texto.
Leonel Neves
Amigo Victor a melhor francezinha foi ter cortado a meta. Não acredito que outras não virão
dado sentir, como eu senti, algo que não é fácil de descrever quando se passa a linha da meta.
Conte com a amizade do nosso grupo porque é ela que esta na origem da sua criação. Um abraço amigo para si e sua irmã e um muito obrigado por aceitarem fazer parte do nosso grupo.
Amigo para lá da vossa, nossa maratona que nos deixou cheios de orgulho ficou também o gosto de nos termos conhecido pessoalmente,foi curto o tempo pois estávamos muito limitados nos tempos do transporte e do hotel, mas ficou-nos a vontade de numa próxima e não muito distante oportunidade nos voltarmos a encontrar para fazermos o que gostamos conviver e praticar desporto e comermos uma francezinha coisa de que também sou fã,um grande abraço e um beijo para ti para a tua irmã e para a vossa mãe um até já.
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