O REPASTO DOS ARTISTAS
Pois é, tendo os alimentos, os condimentos,
os apetrechos adequados, só falta um outro elemento, sem o qual o produto final não é acolhido com fervor: o
gostar, o conhecer, mas sobretudo o saber.
E são estes os componentes-chave para que o prazer do
desfruto se reconheça na face, nos olhos, na barriga, mais ainda na memória dos
arautos do divino garfo.
E foi com estes requisitos que uns tantos artistas do
conta-quilómetros pedestre se lançaram, já a manhã se erguia a caminho da hora
em que o relógio não pára, mas que permite que ele entre no rol dos esquecidos,
de modo vigoroso, pelas escadas, até ao primeiro andar. Aí, surgiu o recanto
para dar largas à vingança de uma época
em que não só o treino, também a moderação alimentar impuseram o nível elevado
dos resultados desportivos, só emparceirados pela nossa Selecção. (Aliás,
permitam-me o reparo, só amada e acarinhada à medida que os resultados foram
irrompendo pelo meio da descrença inicial).
Uns quantos a zelar pelo regalo alheio, lá estavam dois
artistas do tacho, secundados por mais um par de infatigáveis artistas de todos
os serviços, e que metem mão a tudo o que seja para regozijo dos comparsas.
Mesa para aqui, não, talvez ali, “olha lá, não era mais à
larga mudar para ali?”, é este o espírito de franca amizade e participação de
uma mole de gente que não procura protagonismo, antes, busca a confraternização e a parceria de todos
quantos participaram, cada um de modo total, em
alcançar o melhor resultado: para uns, participar, para outros,
esfarrapar os tempos que faltavam até à meta. Foi com este espírito que os
participantes se foram acomodando pelos cerca de sessenta lugares, dispostos
para o efeito.
Completamente desconhecido seria um tal encontro, se não
tivesse as principais iguarias da culinária típica regional, quais chouriços,
morcelas, e outros devaneios do popular repasto, que alguém apelida de
“entradas”, e que diz muito de como iremos dali sair.
Com pequenos intervalos, nas gargantas escorria um tal
vinhito branco, com umas borbulhitas características do doce mamar do
inspirador BACO. Mas julgo que o tal deus ficaria a dever algo, à inspiração
que este néctar transmitia.
Caros amigos, o desfile das incontornáveis sardinhas, bem
ladeadas pelas saladas diversas, foram dando sequência às febras, entremeadas,
salsichas e outros tantos acepipes que só um estômago apertadinho não devorava,
garfada após copo, copo após dentada, apurada com requintes do borrego, a duas
escolhas proporcionado.
Para os resistentes, cavaqueira após conversa fiada, foi
tomando corpo o perfume dos bichinhos pachorrentos, que aparecem antes do raiar
das manhãs frescas. Só que, desta vez, eles permaneceram imóveis, entre
mexidas, provas, outros movimentos ainda, até à boca dos incansáveis lutadores
da estrada.
Desta vez não pretendo nomear seja quem for, seja em que
tarefa for, não deixando os leitores de saber de quem falamos, e não deixando,
menos ainda, de render homenagem a quem proporcionou este toque final.
Daí, uma palavra de apreço para os cientistas da cozinha, prova
aqui, inclui condimento ali, que acrescentaram ao rotineiro, um toque de classe
no leito da gula: o prato frente à barriga.
Caros amigos uma última palavra, para, os que não nos
apercebendo quem, foram os que fizeram chegar à mesa os diamantes apresentados
de forma tão categórica quanto divinal.
VALE O ESFORÇO DE TODOS OS “AVS”.