quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Serra D'Arga a aventura


Frequentei a Escola Primária de 1954 até 1962, ano em que comecei a trabalhar, naquele período escolar ensinaram-me muitas coisas na escola que ainda hoje perduram passados que são 50 anos. Conhecer as serras de Portugal era uma matéria indispensável ao nosso conhecimento, a elas estavam ligados os nascimentos dos principais rios do nosso país e por isso para "combater" a ignorância instalada era necessário esse conhecimento, lembro-me da Serra da Estrela, Montejunto, Candeeiros, Monchique, Gerês e pouco mais. A Serra d`Arga não constava, pelos menos não me lembro, por isso não me admira que ainda me perguntem, onde fica isso? E é uma pena, creio que é uma das coisas mais bonitas do nosso país ao nível da Natureza real, pelos menos para aqueles que gostam de a sentir e a procuram para dar azo à sua condição de homens livres. Há 1 ano fui só à conquista deste lugar em terras do Alto Minho, enfrentei a tempestade invernal na hora em que pisei aqueles terrenos pejados de pedra e rochas, regressei ainda sozinho debaixo de chuva e vento torrencial para poder contar aos amigos tal odisseia com a promessa de lá poder voltar um dia. Da história contada nasceu a força e a vontade que envolveu alguns dos nossos amigos, levados não apenas pela curiosidade mas também para interiorizarem a beleza e a extrema dureza que era apontada neste extraordinário Trail a realizar no dia 7 de Outubro de 2012. Confesso que fiquei surpreendido quando soube que o Rui Pacheco e o Daniel me informaram que queriam participar nesta prova, obviamente fiquei muito feliz, abria-se aqui uma possibilidade de lá voltar e completar aquilo que a Natureza não tinha deixado no ano anterior. Num Grupo de Amigos como o nosso onde a vontade de cada um aponta o seu rumo sem que lhe imponham a via a seguir é que determina a evolução da nossa mente que se vai transformando aos poucos abrindo novas frentes de capacidades que julgávamos não ter no plano fisico e atlético, hoje somos capazes de ser exemplos uns para os outros sem deixar ninguém de fora. Esta liberdade, dedicação, respeito, e muito voluntarismo é o motor que nos transporta e realiza à medida de cada um e conforme os objectivos que temos para realizar.
A Serra d`Arga era um desafio aliciante e desconhecido, sabíamos das dificuldades que eram transmitidas pelas imagens que iam chegando mas quando partimos levávamos a certeza que por maiores que fossem os obstáculos haveríamos de sair de lá orgulhosos pela conquista e superação de mais uma prova de Trail duríssima.
As expectativas rodeavam o Rui e o Daniel, eu nem tanto porque normalmente corro conforme a minha disponibilidade física e sem qualquer pressão, por isso eu próprio tinha elevadas esperanças num bom resultado dos nossos atletas, principalmente do Rui.
A prova era de grau de dificuldade elevada, tinha feito a prova no ano anterior até aos 20kms altura em que foi interrompida face ao temporal no local da prova, por isso dei a conhecer aos 2 as dificuldades da prova, pelo menos até a meio, depois estariam por sua conta porque dos presentes que iam participar ninguém conhecia ainda o percurso. E assim foi, pouparam-se na 1ª parte que era mais acessível e atacaram a 2º parte com muita determinação  dando tudo para obter uma boa classificação dentro do melhor tempo possível, ((de tal forma que tenho de pagar 2 almoços por terem excedido as minhas previsões, 3h. de diferença para mim e 1h. para o Daniel, quando for oportuno tenho de os sentar à mesa)).
Para além da altimetría acumulada de 5 mil metros havia um obstáculo permanente em toda a prova, rochas e mais rochas e pedra e mais pedra, nunca dei tanto salto na minha vida, passámos por caminhos romanos, quer a subir quer a descer, alguns incrivelmente com rodados de veículos de tração animal numa inclinação de arrepiar que até doía o nosso subconsciente quando se olhava para cima e para baixo. Mas a beleza era brutal, para compensar as subidas, (ninguém ousou subir aquilo a correr, pelo menos na totalidade), podia aproveitar as descidas embalando desde que conseguisse controlar os movimentos em tempo útil, foi isso que o Rui e o Daniel fizeram, pelo menos até aos 40kms, a partir daí a dureza da prova ditava as suas leis, as dores e as câimbras começaram a chegar, foi aí também que as primeiras câimbras me começaram a afectar, vinha mais atrás e controlava as coisas para conseguir sair daquele emaranhado de serras e vales com o menor sacrifício possível. O Rui aos 40kms ainda se batia pelo pódio, o que era extraordinário, para trás tinham ficado valorosos trailistas que iam socumbindo à dureza da prova muitos deles muito experientes neste tipo de provas, as desistências já superavam a meia centena e ele ali estava pronto para fazer um brilharete. (Deixo aqui um comentário deixado no meu Blogue pelo campeão Luís Mota sobre estes 2 nossos Amigos:((Aproveito para felicitar igualmente o Daniel e o Rui pelos bons desempenhos. O Rui, caro Joaquim, já é uma grande referência no trail e não fosse traído pelo desgaste, poderia ter sido a “grande surpresa da prova”.)), isto demonstra o reconhecimento da mais valia que representa hoje para o Trail o desempnho do Rui, possa ele e a sua disponibilidade de vida para prosseguir e ombrear com os melhores do nosso país.


Os 5kms finais foram duríssimos tal como em toda a prova e de uma forma geral o comportamento de todos nós foi igual, chegar e tentar recuperar o melhor possível. Felizmente saímos os 3 incólumes de problemas físicos e prontos para em breve enfrentarmos novos desafios. Ficámos com vontade de lá voltar, a distância e a logística é o maior obstáculo mas vamos procurar sobreviver até lá e depois dicidir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já tive ocasião de felicitar os três campeões pela intrepidez de decidirem levar a cabo uma prova tão dura e por a concluirem com muito bons tempos.
Aproveito para felicitar o Joaquim Adelino também pela excelente crónica sobre a prova.
Um abraço ao Joaquim, outro ao Daniel e outro ao Rui.

Leonel Neves